Gaiatos e Gaianos
Ontem meu marido me contou um diálogo rápido que teve com duas colegas de trabalho. Elas estavam comentando sobre um filme que entrou em cartaz esta semana em São Paulo, depois falaram sobre uma notícia que haviam lido num grande jornal. Ele, em ambos os casos, não sabia das novidades, mas não se deixou abalar pelo leve olhar de reprovação das amigas e, então, perguntou a elas: “Vocês sabem me dizer em que fase da Lua estamos?” Era noite de segunda-feira, Lua cheia, linda. E elas não tinham reparado...
Esse tipo de situação me faz refletir sobre nossa noção de conhecimento, de pessoa bem informada. Não estou pregando a alienação do mundo, muito longe disso (ou teria escolhido outra profissão), mas acho que mais importante do que saber o nome da última celebridade desconhecida que caiu fora do reality-show-sem-graça é estar ligado nos ciclos naturais, que nos guiam em nossa ecologia interna (sim, isso existe). Há uma troca, uma interdependência que pode ser muito saudável. Ter vontade de se recolher nos dias de chuva ou se sentir mais ativo num dia ensolarado é sinal de saúde, não uma desculpa para tomar uma pílula pasteurizadora de humores...
Diz o dicionário Aurélio que lunático é aquele que está sob a influência da Lua. Não sei não, mas acho que, colocado dessa forma, o termo tem uma conotação pejorativa, quase um jeito torto de dizer que certa pessoa anda meio desligada do mundo ou ligada demais em seus instintos, aluada, amalucada... Prefiro pensar que todos nós estamos sujeitos às mudanças da Lua, especialmente as mulheres - por conta do ciclo menstrual, talvez, que coincide (ou deveria coincidir, no equilíbrio) com o tempo que nosso satélite leva para completar uma volta em torno do eixo da Terra. Não por acaso, dias de mudança de lua costumam ser os mais concorridos nas maternidades...
Aceitar que somos parte da natureza é o primeiro passo para nos tornarmos mais afinados com as necessidades do planeta. Viver em ambientes herméticos, em que a luz artificial e o ar-condicionado nos fazem esquecer a passagem do tempo, ao contrário, mantém-nos distantes de acontecimentos importantes: um vento que anuncia uma queda brusca de temperatura; nuvens escuras, arauto das tempestades.
Em tempos de mudanças climáticas, parece-se importante estar atento ao que ocorre ao nosso redor. Por que dias tão quentes no inverno paulista ou secos ao extremo no Planalto Central? O que isso tem a ver comigo e de que maneira isso interfere no meu estado de espírito? E se nada disso me influencia, o que isso significa? Perguntar, questionar, filosofar sobre temas relacionados ao clima, aos astros, às estações do ano, enfim, eram atos comuns na maioria das civilizações antigas. Mas eis que a humanidade atingiu o ápice da vaidade e da soberba, e disse a si mesma que reina sobre a natureza, amiga que é da Ciência...
Seria tão melhor se pudéssemos caminhar ao encontro da natureza e não na direção oposta... Haveria tempo para um verbo que adoro: contemplar. Na permacultura, um dos princípios passa exatamente por aí, de uma forma mais pragmática, é verdade:observar e interagir. Por isso, resolvi compartilhar com você algo que recebi como um presente. Sábado passado eu estava na minha casa na ecovila com uns amigos, quando, de repente, fomos arrebatados pelo nascer da Lua cheia, que nos banhou com uma beleza que Caetano chamaria de estonteante... Graças aos vidros usados que instalamos na parede principal da sala (foto), pudemos ver, de dentro da casa, a Lua em seu estado pleno de luz, em ascendência tão rápida que parecia ter pressa de ser vista por todos. Tão simples, tão inominável.
Referência: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/lunatica-muito-orgulho-298859_post.shtml
texto: Giuliana Capello
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